O termômetro quando insiste em despencar logo tem uma solução prática para os amantes da gastronomia: um bom vinho! Com a queda nas temperaturas, seja pela mudança do clima ou estação do ano, o consumo da bebida força no Brasil. Restaurantes, adegas e supermercados registram aumento nas vendas, especialmente nos rótulos tintos e encorpados. Mas por que será que o vinho causa sensação térmica de esquentar o corpo?
O aquecimento associado à bebida tem explicação científica e não está no tipo de uva nem na cor do vinho, como muitos acreditam.
“O vinho, assim como qualquer bebida alcoólica, provoca um fenômeno chamado vasodilatação: os vasos sanguíneos superficiais se dilatam e levam o sangue mais próximo da pele. É isso que gera aquela vermelhidão no rosto e aquela impressão de que a gente está mais quentinho”, explica Jonas Martins, sommelier e enólogo, gerente da MMV, importadora especializada.
Mas trata-se de uma ilusão térmica. Enquanto a superfície do corpo aquece, o interior pode, na verdade, esfriar. É como se o calor fosse real só na pele e enganasse o resto do corpo. Por isso, a clássica cena do brinde ao ar livre no frio do inverno europeu pode ser charmosa, mas não necessariamente segura se houver exagero.
Você talvez já tenha escutado que vinhos tintos são os melhores para o frio, e pode até ser verdade no paladar, mas não no termômetro. “A ideia de que um tinto encorpado aquece mais não tem base científica”, afirma Martins. O que muda é o teor alcoólico: quanto maior, maior a chance de sentir o tal calor momentâneo. Mas isso é mais sobre a força da bebida do que sobre a sua cor ou variedade de uva.
Além disso, nos dias frios, o vinho raramente atua sozinho. Costuma vir combinado com fondues, massas, carnes de longa cocção. Esse combo alimentar dá uma força na elevação térmica. A digestão exige energia, e energia gera calor.
Quem não abre mão de um bom vinho, Jonas Martins traz duas sugestões, certeiras, disponíveis no Brasil pela MMV. Prepare a taça:
Valdrinal Tradición Crianza 2020 (Espanha): da Bodega Y Viñedos Valdrinal, safra 2020, é produzido com uvas 100% Tinta Fina (Tempranillo). Elaborado a partir de uvas colhidas à mão em vinhedos com mais de 30 anos, este vinho passa por fermentação em tanques de aço inox e envelhecimento de 12 meses em barris de carvalho francês novos. Apresenta cor vermelho-rubi intenso e aromas picantes, com notas de groselha e framboesa sobre um fundo de carvalho, tosta e defumado. No paladar, revela-se inesquecível: muito saboroso e expressivo, com alta intensidade, acidez e taninos elevados, perfeitamente equilibrados, evidenciando toda a força do terroir de Ribera del Duero.
Tahbilk GSM 2020 (Austrália): Produzido na região de Nagambie Lakes, também em Victoria, traz em sua composição 37% Grenache, 33% Mourvèdre e 30% Shiraz, com vinificação separada em inox e amadurecimento de 18 meses em barris de carvalho francês e americano. De cor rubi profunda, encanta pelo bouquet aromático de amora, ameixa, groselha e um delicado fundo de alcaçuz. Na boca, impressiona pelo perfil carnudo, encorpado e redondo, com taninos finos e acidez vibrante, comprovando que complexidade e frescor podem caminhar juntos.
“O ritual, o sabor e a companhia fazem o resto, e esses, sim, têm um poder de aquecimento que vai além da ciência. Com moderação, o vinho segue sendo a bebida perfeita para quando o frio bate à porta. E, se for para brindar ao inverno, que seja com estilo — ou melhor, com uma boa garrafa”, finaliza.